Sindicato dos Trabalhadores do
Poder Judiciário Federal no Rio Grande do Norte

Servidores alertam para ataques do "novo" governo

sexta-feira, 31 de outubro de 2014.

É preciso preparar já a resistência contra prováveis medidas, dizem dirigentes sindicais

Por Hélcio Duarte Filho

A referência à “responsabilidade fiscal” e aos bancos no primeiro discurso após a eleição parecem tentar sinalizar que não haverá mudanças, inclusive para os servidores públicos, no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), reeleita no pleito presidencial mais disputado desde a redemocratização, em 1989.

"Quero a parceria de todos os segmentos, setores, áreas produtivas e financeiras, nessa tarefa que é responsabilidade de cada um de nós. Seguiremos combatendo com rigor a inflação e avançando no terreno da responsabilidade fiscal", disse a presidente.

Difícil acreditar que a citação do sistema financeiro e do cantado ajuste fiscal sejam obras do acaso ou improviso. Assemelha-se, sim, a um recado direcionado ao mercado: esqueçam o que foi dito na campanha, quando a candidata pôs na conta dos bancos a potencial responsabilidade pela pobreza e miséria dos brasileiros e acusou seus opositores de tramarem um brusco ajuste fiscal.

Entrará para a história da propaganda política do Brasil a peça em que a ameaça de entrega do controle do Banco Central a banqueiros é acompanhada do simultâneo esvaziamento do prato de comida do povo brasileiro.

Mercado

Dois dias após a eleição, os jornais e portais na internet já estampavam a “pressão” do mercado para que o governo aplique medidas impopulares que, inevitavelmente, vão atingir os trabalhadores e os serviços públicos – o que Dilma, ao longo da campanha, prometeu não fazer. “Investidores querem redução de gastos e ministro com credibilidade no mercado”, destacava o portal UOL, o mais acessado do país.

No seu discurso de vitória, a presidente foi ágil em restabelecer pontes com parte dos conservadores que havia migrado da sua candidatura para a de Aécio. Sinalizou também seu compromisso com a responsabilidade fiscal, que sabemos ser uma forma eufêmica de se apresentar uma política de arrocho salarial para os servidores públicos.

"Com a economia em crise, não há dúvida que serão anos duros e de muita luta para todos nós”, resume Fred Barbosa, que integra a direção do sindicato dos servidores do Judiciário Federal da Bahia (Sindjufe-BA), assinalando que os trabalhadores não devem alimentar ilusões com os próximos quatro anos de governo, assim como não deveriam fazê-lo caso tivesse sido o tucano o vitorioso da disputa.

Quando atacou os banqueiros, a candidata petista “chocou” alguns setores conservadores. O objetivo da campanha, no entanto, era evidente: minar o crescimento de Marina Silva, a postulante ao cargo pelo PSB e que tentava se apresentar como terceira via, apesar de uma intensa e exposta parceria com a herdeira do banco Itaú, que divide com o Bradesco a liderança privada no mercado financeiro no país. Não fez menção, e não surpreende, ao fato de que tanto o Itaú quanto o Bradesco figuravam entre os principais financiadores também da campanha de Dilma.

Mas a propaganda talvez tenha chocado mais a alguns não pela agressividade contra os bancos, mas por indiretamente ilustrar algo não revelado, mas que em números pode ser traduzido pelo montante de recursos que ao longo dos últimos 20 anos sangraram dos cofres públicos para as contas dos credores das dívidas públicas do país, na forma de juros e amortizações: em torno de R$ 14 trilhões, segundo dados oficiais. Desse total, em 11 anos de governo o PT responde, até o fim de 2013, por R$ 7,7 trilhões.

A título de comparação, em 2013 os gastos previstos com o Bolsa Família, principal programa assistencial do governo, estão na casa dos R$ 29 bilhões, alcançando os maiores valores, sejam nominais ou corrigidos, de todos os três mandatos petistas. Multiplicando-se por 12, não se atinge R$ 350 bilhões, espantosas 22 vezes menos do que as despesas com a dívida pública, que o governo tanto alardeia ter controlado.

Encontro nacional dos servidores

Nada, absolutamente nada, indica que haja mudança de rumo e de prioridades nos próximos quatro anos de governo – que encerra seu primeiro mandato reafirmando uma política salarial para o funcionalismo que resultou em oito anos de perdas salariais para os servidores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União.
“O governo do PT estava vindo com uma política de arrocho salarial e, com a vitória nas urnas, creio que a intransigência e falta de diálogo com os servidores públicos vão continuar”, observa Eugênia Lacerda, servidora do TSE e dirigente da Fenajufe. “A perspectiva não é boa. Isso mostra a necessidade de os servidores públicos se reorganizarem em uma luta unificada, a exemplo de 2012, para alterar essa postura do governo dito dos trabalhadores e garantir, ao menos, a reposição inflacionária.”

Ela destaca a importância de todos os setores participarem do seminário que o conjunto das entidades sindicais dos federais fazem de 14 a 16 de novembro, em Brasília.

O fórum é uma oportunidade de os trabalhadores dos serviços públicos se prepararem para um cenário nada animador que se vislumbra para 2015. “Durante os últimos 12 anos, com o PT no governo, fomos bastante atacados em nossos direitos”, afirma Saulo Arcangeli, também da coordenação da Fenajufe. Ele cita a reforma da Previdência e a privatização da seguridade via fundos de pensão, ao lado do arrocho salarial, como exemplos disso.

“Nos próximos quatro anos de PT precisamos aumentar a unidade de luta dos servidores públicos para nos preparar para os prováveis ataques que virão, diante do aprofundamento da crise econômica e da manutenção da base política de sustentação do governo, amplamente desfavorável aos trabalhadores”, alerta.

Para tentar reverter os oito anos de perdas, que já reduzem o poder de compra dos salários em cerca de 50%, os servidores do Judiciário Federal e do MPU devem prosseguir com a campanha pela aprovação dos projetos salariais. Mas, é natural, devem também analisar na próxima reunião ampliada da federação, em novembro, quais rumos seguir.

“Dilma e PT agora terão que enfrentar uma agenda negativa que tentaram esconder debaixo do tapete durante a campanha [eleitoral]”, pontua Adilson Rodrigues, servidor da Justiça Federal de Santos (SP) e da coordenação geral da Fenajufe. “O governo terá que pagar mais caro pelo apoio político no Congresso, cuja maioria tem perfil conservador e líderes mais proeminentes estão envolvidos no escândalo da Petrobras”, diz.

“Tudo isso somado, teremos cenário desafiador a partir de agora, onde o governo estará entre a cruz e a espada de implementar medidas impopulares e correr risco de voltar a ser contestado nas ruas, com retomada das manifestações”, analisa, ressaltando que o processo eleitoral demonstrou que os servidores do Judiciário Federal e do MPU romperam definitivamente com PT, responsável pela “política de arrocho que levou à maior perda de poder aquisitivo já enfrentada pela categoria em mais de uma década”.

Os líderes sindicais que seguiram apoiando a reeleição de Dilma, constata Adilson, serão cobrados pela categoria, que precisa resgatar a sua unidade e partir para um grande movimento nacional de pressão sobre o governo.

Fonte: LutaFenajufe Notícias





Clique Aqui para voltar.