Sindicato dos Trabalhadores do
Poder Judiciário Federal no Rio Grande do Norte

"Onda grevista tem raízes profundas", diz professor da USP

terça-feira, 20 de maio de 2014.

Nas últimas semanas, greves ganharam o noticiário nacional. Em diversas cidades, diferentes categorias protagonizam mobilizações e greves heróicas. Junto às categorias profissionais, temos visto grandes manifestações por moradia e condições dignas de vida, que também criticam os exorbitantes gastos para a realização da Copa do Mundo.

Embora as mobilizações aconteçam às vésperas do maior evento esportivo do planeta, trata-se de um “processo que já se desenrola no médio prazo, que tem raízes muito profundas e que se manifesta conjunturalmente nesse ciclo de retomadas de mobilizações tendo o pretexto da Copa do Mundo como principal mote”, explica Ruy Braga, professor de sociologia da USP.

Autor do livro a “Política do Precariado” e tido como um dos principais intelectuais do país, Braga concedeu uma entrevista ao Jornal do Judiciário, onde analisa o que há por trás dessa onda grevista.

Jornal do Judiciário - Qual relação poderia ser estabelecida entre a proximidade da Copa do Mundo e essa onda de greve que está acontecendo?

Ruy Braga - A melhor correlação que a gente deve tentar estabelecer é entre o processo de desenvolvimento do ciclo grevista de 2008 para cá com o processo de desaceleração da economia, associado a um relativo aumento da inflação. O atual ciclo de greves coroa e consolida uma dinâmica de retomada da mobilização grevista que acontece em escala nacional desde 2008. Isso tem basicamente a ver com, por um lado, o endurecimento das condições de trabalho, da precarização das condições de trabalho, das condições de consumo das forças de trabalho, e por outro lado, tem a ver com determinações que são macro-econômicas gerais, que estão relacionadas à desaceleração do ritmo do crescimento econômico anterior ao ano de 2008, que favorecia uma certa absorção dessas demandas, em especial as salariais.

Há um processo que se desenvolve do ponto de vista da automobilização dos trabalhadores, que tem uma dinâmica complexa com o sindicalismo. Essa onda grevista está se mostrando cada vez mais impaciente e intolerante com o sindicalismo de natureza governista. As bases têm sistematicamente atropelado as direções dos sindicatos em diferentes regiões do país, em diferentes categorias. Isso é notório. Isso mostra um aumento da pressão que vem de baixo, e que é exercida sobre a estrutura sindical de uma maneira geral, em especial sobre o sindicalismo governista.

A proximidade da Copa, neste contexto de baixo crescimento, com um aumento da pressão inflacionária, com uma conjuntura política de eleições, tudo favorece esse processo de automobilização dos trabalhadores, quer se dê por intermédio de mobilização de categorias profissionais organizadas, quer se dê por intermédio desses chamados movimentos sociais urbanos, por moradia, principalmente. Que são aqueles relacionados às questões das desapropriações relativas à Copa do Mundo.

Vejo como um processo que já se desenrola no médio prazo, que tem raízes muito profundas e que se manifesta conjunturalmente nesse ciclo de retomadas de mobilizações tendo o pretexto da Copa do Mundo como principal mote.

Jornal do Judiciário - No ano passado, vimos mobilizações que aconteceram por fora do movimento social organizado. Você diria que esse ano veremos manifestações que passem por dentro das categorias organizadas?

Ruy Braga - Isso já está acontecendo. No ano passado, você teve uma ampla mobilização a partir de junho em torno de bandeiras fundamentalmente relacionadas à saúde, educação, transporte público etc, que são basicamente demandas do próprio movimento social organizado, em especial do sindicalismo, há bastante tempo. Basta você ver que nos últimos dois anos tínhamos assistido a uma greve nacional, de ampla repercussão, dos professores do sistema universitário superior federal (organizados pelo Andes- Sindicato Nacional), tinha visto uma quantidade gigantesca de greves dos professores municipais do ensino fundamental, que praticamente configuraram em seu conjunto uma onda grevista nacional, e hoje temos verificado a aproximação dos sindicatos dos metroviários, dos rodoviários, daqueles trabalhadores do transporte, que também tinham protagonizado uma série de greves e lutas no passado recente e que agora se somam às categorias como a de professores, por exemplo.

Há uma demanda muito sensível e sentida pela população em relação à saúde, transporte e educação que acaba sendo traduzida do ponto de vista da mobilização e da automobilização por esses avanços dos setores mais organizados dos trabalhadores.

O menor crescimento econômico e alta da inflação tendem a elevar a instabilidade social e ao aumento da repressão por parte do Estado. Como vê esse cenário?

Não tenho dúvida que a repressão deve aumentar exponencialmente, a exemplo do que a gente acompanhou nesse último ano. Muito provavelmente você deve ter um cenário de desequilíbrio e instabilidade social, que vai produzir por parte das autoridades, dos governos municipais, estaduais e federal uma escalada de violência contra esses movimentos. Isso vai ficar explícito na Copa do Mundo e tende a aumentar por conta da própria conjuntura das eleições deste ano. O governo federal e os governos estaduais, que controlam as PMs, os governos municipais, que controlam as guardas municipais, vão utilizar todo aparato repressivo para tentar conter essas manifestações. Não tenho dúvida em relação a isso.

Jornal do Judiciário - As greves estão acontecendo, mas elas ainda não estão articuladas. Você indicaria para que essa articulação pudesse acontecer?

Ruy Braga - Eu acredito que há alguma articulação em algum nível. Ou seja, o pessoal que se mobilizou para protestar contra os gastos exorbitantes da Copa, contra as desapropriações, eles são, em grande medida, militantes do movimento sindical. Hoje você consegue perceber nitidamente uma articulação entre os rodoviários, você consegue perceber uma certa relação entre bases sindicais insurgentes e sindicalistas ou sindicatos que não representam diretamente essas bases, mas que hipotecam solidariedade, que estão presentes; principalmente o sindicalismo anti-governista, de oposição.

Eu consigo identificar sim uma certa coordenação num nível ainda embrionário, evidentemente que isso pode melhorar, mas há uma coordenação em escala nacional que busca articular essas demandas em relativas à Copa do Mundo, os protestos da Copa, às demandas mais tradicionais do movimento sindical.

Fonte: Sintrajud

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